PVOEM - Dançando com as paredes - Dark

 

 

Eles se reuniam em lugares escuros e úmidos, mas não eram morcegos. Gostavam de se encontrar em cemitérios e ler poesia do século XIX, mas não eram desmortos. Os meninos usavam batom preto e esmalte roxo nas unhas, mas não eram travestis. As meninas experimetnavam drogas e formas ousadas de dominação sexual e eram desejadas pelos pobres mortais que não entendiam o que se passava ali.

 

Eles eram os "darques".

 

Em meados dos anos 1980, uma turminha agitada e que aprontava mil confusões se reunia em botecos e boates mais descolados para ouvir a cópia em K7 dos últimos singles lançados na Inglaterra e trazidos em contrabando para o Brasil por algum amigo mais influente. Nessas rodas -regadas a muito pó, álcool e anfetaminas- uma modinha nova, lúgrube, funesta, pálida e altamente cool, ditou tendência e forjou toda uma geração de músicos, djs, designers e gente esquisita que comandou a cena musical no rio e sampa.

 

No Rio, o Crepúsculo de Cubatão era o templo supremo para essa gente gostava de usar sobretudo e botas em pleno "inverno" tropical e não se incomodava de causar espanto em quem cruzava com eles nas ruas. Nas noites de quinta-feira, uma turma de morcegóides se aglomerava ante aquela casa esquisita, mantida por Ronald Biggs, em plena Barata Ribeiro. Em Sampa, o Madame Satã (irnonicamente, um personagem carioca) era o centro de aglomeração pós-adolescente, pré-gótico e causava igual frisson nas noites de shows.

 

Mais undergroud que isso, só a Ilha dos Mortos, na Galeria Alaska, no Rio ou as inúmeras casas de show no ABC paulistano. Mas essa era outra turma. Outra coleta.

 

 

[bônus 1] - O mundo é um moinho - Cartola

[bônus 2] - Someone to Watch Over Me - Chet Baker