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PELVs

Page history last edited by Dow Osage 10 years, 6 months ago

 Se ninguém é uma ilha, a PELVs é uma península: porção de terra cercada de água por todos os lados, menos um, pelo qual se liga a outra terra. Fãs do R.E.M. que descobriram Pixies, e daí por diante Dinosaur Jr., Pavement, Teenage Fanclub e Yo La Tengo (para quem abriram, ou melhor, com quem tocaram recentemente no Rio), só pra ficar nos mais manjados, eles cantam em inglês do mesmo modo que

faziam no começo dos anos 90. Como, entretanto, já lembrava Borges ao justificar a desnecessidade do poeta argentino ser gauchesco o tempo todo, Maomé pode ser

árabe sem falar de camelos: fosse um forasteiro querendo se disfarçar de árabe, encheria o Alcorão deles, para dar uma “cor local”. Carioca da gema, mesmo cantando

em inglês e sem usar berimbau a PELVs consegue soar mais brasileira e praieira do que suas contemporâneas e conterrâneas.

 

O primeiro disco, Peter Greenaway’s Surf, foi lançado em 1993, numa época em que o sonho das bandas iniciantes ainda era juntar dinheiro para se perder entre a parafernália de um estúdio suntuoso. A PELVs, ao contrário, depois de aceitar o convite da Rock it! Records, se trancou no quarto do vocalista por três dias e gravou (num porta-estúdio de oito canais) vinte e uma músicas pinçadas de um repertório que já era imenso, apesar do pouco tempo de estrada. O resultado

– um clássico – é a polaróide de uma explosão que até hoje intriga e deleita.

 

Em 1997, já pela Midsummer Madness, A PELVs lança Members to Sunna. Com um estúdio à sua disposição, eles abandonam o lo-fi da estréia e mergulham em busca de

um som mais aprimorado, na contramão dos últimos retardatários que ainda tentavam surfar a onda “alternativa”. Um belíssimo registro, apesar de às vezes soar desigual como um adolescente mudando a voz, Members continua, quatro anos depois, milhas e milhas à frente do rock independente que se faz no Brasil.

 

Com uma pontualidade digna de Copa do Mundo, em 2001 eles voltam a invadir a nossa praia: nem tanto ao mar, nem tanto à terra, com Peninsula a PELVs alcança a maturidade e lança o seu melhor álbum. As composições atingiram o grau de

requinte que já se anunciava em Members, mas sem abrir mão dos ganchos pop do primeiro disco. Atentos à lição de Alan Ginsberg (“o método deve ser a mais pura carne / e nada de molho simbólico”), a banda usa os recursos do estúdio

Freezer não como um fim, mas como instrumento para lapidar ainda mais as canções.

 

E valeu a pena. Boa parte das músicas tem a placidez da capa (terceira de uma série de belas fotos aquáticas): a linda trompetada que abre e pontua “Barbecue” é a trilha sonora perfeita para se acordar amarrotado e na sarjeta, com um cachorro lambendo a sua cara e o sol nascendo por trás (fazendo dela descendente de “Sunday Morning”, do Velvet Underground, o que não é exatamente pouca coisa). “Freddycar 311”, “Equador” e a bonita de doer “Sun of a Beach” não ficam atrás em sofisticação.

“After Shave” é uma balada com jeitão country que Gram Parsons assinaria embaixo. Já “Backdoor” é um peixe fora d’água nesta melodiosa Peninsula, a nos lembrar que a PELVs segue sem competidores na hora de fazer barulhos que grudam no ouvido.

Por falar nisso, tente tirar da cabeça os refrões de “Abrasive Song” e “Even If The Sun Goes Down (I’ll Surf)” – uma só audição e eles estarão irremediavelmente tatuados na sua memória auditiva, assim como a ensolarada “The New One” e a surpreendente “Still P.G.”, repleta de paradas bruscas e divertidos backing vocals (que poderiam ser descritos como Pet Sounds depois de umas cervejas).

 

Gaitas, violões, órgãos Hammond, guitarras cheias de feedback, harmonias vocais elaboradas, entra tudo nesta paella sonora. Nas mãos de cozinheiros menos experientes

a coisa poderia desandar, mas a ótima produção mantém o prato coeso. A maior prova é a linda “She’s Never Had a Drink”, última canção composta para o disco e ótimo prenúncio para o futuro. De um delicado começo ela passa pa

 

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